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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ARTIGO 272 (ANO I, Nº 27, DE 23 A 31 DE JULHO DE 2010).




SOCIEDADE DOS ENXADRISTAS DA BAHIA:

- UM XEQUE-MATE NA DISCRIMINAÇÃO -


Por: Vicente Paulo Maia Rebouças Filho*

Esse artigo visa descrever ou pelo menos mostrar alguns pontos importantes e interessantes da maneira como as pessoas que praticam o xadrez nos clubes de xadrez da Bahia pensam, se relacionam e se vêem dentro e fora desses ambientes. Achei interessante falar sobre esse tema porque essas pessoas representam uma parte da sociedade muito pouco conhecida da maioria da população, que nem ao menos sabem que existem dezenas de clubes de xadrez espalhados pela Bahia e que lá estão guardados parte da história da cultura do estado e que dentro desse meio existe uma forma organizacional própria.

Mesmo escrevendo essa breve introdução, sei que ainda terão algumas pessoas que ficarão se perguntando: o que é que tem de interessante em se falar de um local onde pessoas pacatas e calmas ficam debruçadas sobre uma mesa olhando para um tabuleiro com um monte de peças esquisitas? Não é um jogo como buraco, dominó, palitinho? porque não escolhi falar sobre futebol, já que também jogo bola em um clube, ou sobre surf, já que também pego minhas ondinhas e tenho a minha tribo também na praia, já que esses são esportes muito mais emocionantes e divertidos?

Essa é a impressão que o xadrez dá nas pessoas que não o conhecem, e, justamente por isso, senti que poderia por meio desse artigo dar a minha contribuição para demonstrar que essa visão sobre o xadrez e sobre os enxadristas (pessoas que praticam o xadrez) é deturpada e que por trás dessa cortina que se fez sobre a história do jogo de xadrez e de diversos outros esportes amadores existem pessoas que vivem e se dedicam para aperfeiçoar e aperfeiçoarem-se enquanto jogadores e também como pessoas produtivas da nossa sociedade.

Em grande parte a culpa dessa visão deturpada sobre o jogo de xadrez e sobre as pessoas que o praticam vem, no meu entendimento, de dois fatores: o primeiro é notório e histórico, que é a discriminação que o desporto amador sofre na sociedade brasileira, não há ou há muito pouco incentivo para que o esporte amador evolua e se desenvolva. O Brasil não tem uma política de incentivo às pequenas instituições ou aos esportistas "sem nome". As grandes empresas querem que primeiro a pessoa se torne um grande campeão com nome já reconhecido em todo o Brasil para, daí, poder investir e associar sua marca àquele esporte ou àquela pessoa, quando na verdade o caminho correto seria o contrário. A mídia como trabalha em conjunto com os grandes patrocinadores também não oferece espaço suficiente para a divulgação de eventos dos esportes amadores e esse processo corre em forma de cascata desencadeando em uma cultura monoesportiva onde futebol e seus astros são os donos da atenção, logo atrás vem a formula 1 e um pouco atrás desse vem o vôlei e o basquete , ficando os outros esportes a ver navios. Mas quando chega nas olimpíadas todos ficamos torcendo e chorando para que nossos atletas amadores, que treinaram em péssimas condições, ganhem uma medalha de ouro. (Isso foi apenas um pequeno desabafo de um brasileiro, mas voltemos ao foco do nosso artigo, que é o xadrez).

Outro fator que leva o jogo de xadrez e as pessoas que o praticam a serem vistas como ETs são os estereótipos criados ao redor destas; primeiro criou-se uma falsa verdade de que o xadrez é um jogo difícil e só pode ser praticado por pessoas muito inteligentes e de que uma partida de xadrez dura vários dias e de que tem que ter muita paciência, dentre uma serie de outros estereótipos criados e perpetuados a respeito do jogo e das pessoas que o praticam. É claro, é mais fácil ficar vendo televisão sentado numa poltrona e deixar que outras pessoas pensem por nós. Devo admitir que uma parte dessa culpa vem dos próprios enxadristas que em parte assumem uma postura elitista, o que acaba afastando as classes pobres da sociedade do jogo, postura que esta sendo mudada nas ultimas duas décadas pelos novos valores do xadrez baiano que cada vez mais vem se destacando e por merecimento começam a assumir cargos importantes na liderança dos clubes de xadrez deixando para trás cabeças ultrapassadas e caducas da liderança do clube baiano de xadrez.

Para entender a sociedade dos enxadristas da Bahia é precisso compreender como se organizam essas pessoas.o clube baiano de xadrez foi fundado em 21 de fevereiro de 1929. de início suas atividades eram realizadas na casa de Itália, tradicional clube de salvador, e congregava enxadristas imigrantes e seus descendentes e, talvez, por esse fato, possuía uma ótima biblioteca, constando de livros, publicações e revistas estrangeiras, fundamentais ao tempo eis que a bibliografia brasileira e publicações especializadas era bastante escasa...

Com o entusiasmo e a dedicação de um grupo de aficionados, o clube manteve suas atividades até os tempos difíceis da 2º guerra Mundial, atravessando dificuldades e, finalmente, personalizou-se ainda mas deixando as dependências da acolhedora Casa de Itália para em 1956 transferir-se definitivamente para uma sede própria onde até hoje funciona na rua Carlos Gomes, nº06, Ed. Castro Alves, 10º andar. Em 1960 foi fundada a Federação Baiana de Xadrez que proporcionou aos enxadristas a participação em competições oficiais, organizadas pela confederação Brasileira de Xadrez e FIDE (Federação Internacional de Xadrez) revelando enxadristas de bom, nível técnico em várias categorias.

No interior do estado algumas cidades se destacam como potências no xadrez. Entre elas Vitória da conquista, Feira de Santana, Senhor do Bomfim, Cruz das Almas e Ilhéus, dentre outras. Todos esses clubes organizam torneios de xadrez com apoio de pequenos patrocinadores ou sem apoio algum, onde enxadristas viajam para participar dos torneios de uma cidade para outra. Existem os torneios oficias da FBX (Federação Baiana de Xadrez) que contam ponto para o ranking dos jogadores somando mais pontos para os melhores classificados, assim como em outros esportes, formando uma lista com todos os jogadores filiados organizada por ordem de pontos no ranking. Apesar dos inúmeros torneios que ocorrem, ninguém aqui em nosso estado consegue sobreviver às custas de jogar xadrez, nem que ele ganhe todos os prêmios de todos os torneios.

Em virtude do que foi exposto até aqui, das dificuldades, o que levaria às pessoas que têm suas vidas particulares e seus empregos a desprender uma parte do seu tempo para o xadrez? Com certeza a resposta a essa pergunta seria o Amor e a Paixão que esse jogo desperta naqueles que o praticam. Para compreender essas palavras é fácil, é só aprender a jogar , quem aprende a jogar xadrez e aprende a compreender o jogo na sua essência jamais esquece, e com certeza vai confirmar esse amor e essa paixão de que estou falando.

O xadrez é um jogo emocionante e apaixonante porque dentro das 64 casas que compõem o tabuleiro e com as 16 peças que cada jogador tem em seu domínio ele pode imaginar, criar, pensar, sofrer, rir, chorar de alegria e tristeza, enfim, ele pode pôr para fora uma série de sentimentos e dar forma a uma serie de pensamentos, coisa que as pessoas fazem muito pouco no dia a dia comum. Se você está alegre você pode expressar essa alegria em um jogo mais solto, se você está bravo você pode jogar agressivamente atacando as peças adversárias, e no fim, perdendo ou ganhando você conseguiu pôr para fora o que esta sentindo e compartilhar aquilo com o amigo com quem está jogando.

O jogo de xadrez acarreta uma série de benefícios para quem o pratica, em paises como a Rússia o xadrez é matéria obrigatória nos colégios. Aqui na Bahia já existe um projeto em escolas publicas de Vitória da Conquista onde o xadrez é ensinado às crianças do ensino fundamental e umas séries de benefícios já foram detectados após a implementação desse projeto. A criança melhora sua capacidade intuitiva, sua compreensão, seu raciocínio lógico, sua atenção, a velocidade na tomada de decisões, comportamento, interesse pelos estudos, amizade com os outros colegas e professores, etc.

Mas, vamos falar dos enxadristas, dessa classe de "malucos" como alguns os classificam e até alguns deles próprios. Os grandes jogadores de xadrez se destacam pela sua grande capacidade de concentração, o que é muito importante no momento do jogo, pois é necessário que haja um certo isolamento da sua mente com o ambiente externo. Mas isso não quer dizer que o ambiente dentro dos clubes de xadrez é marcado exclusivamente pelo formalismo e pelo silêncio. Claro que no momento das competições é necessário se respeitar o silencio do local, mas durante os momentos dentro do clube onde estamos jogando sem compromisso com a competição o ambiente de informalidade é o que impera. Pessoas contam piadas, falam de viagens , de namoradas, do carnaval, de futebol, marcam encontros para saírem para beber, etc.

Muito embora, é bom deixar claro, que, como em todos os lugares, existem as pessoas que ajudam e as que atrapalham para tornar o ambiente de convívio social do clube de xadrez um local agradável para todos e principalmente para a aproximação de novas pessoas interessadas em aprender a jogar. Ainda existe uma certa boçalidade de algumas pessoas que praticam o xadrez na Bahia, esses acham que são os donos absolutos do saber e que estão acima do resto da sociedade, sendo que considero estes tipos de pessoas produto de um dos efeitos adversos do xadrez, que é "encher" o ego da pessoa de autoqualidades, o que acaba subindo para a cabeça de algumas. Mas devo reforçar que isso é apenas uma pequena parte da sociedade enxadristica na Bahia, que é permeada na grande maioria de pessoas de bem.

Se bem que devo acrescentar que das pessoas que conheci as mais capacitadas intelectualmente, eram jogadores de xadrez, mas, segundo a teoria das inteligências múltiplas de Gardner dizem que não existe uma inteligência e sim várias inteligências, deve ter sido impressão minha.

"A Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner (1985) identificou as inteligências lingüística, lógico-matemática, espacial, musical, sinestésica, interpessoal e intrapessoal. Postula que essas competências intelectuais são relativamente independentes, têm sua origem e limites genéticos próprios e substratos neuroanatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos.Segundo ele, os seres humanos dispõem de graus variados de cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que elas se combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais para resolver problemas e criar produtos. Gardner ressalta que, embora estas inteligências sejam, até certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam isoladamente. Embora algumas ocupações exemplifiquem uma inteligência, na maioria dos casos as ocupações ilustram bem a necessidade de uma combinação de inteligências".

Queria abordar outro ponto que para mim sempre pareceu notório entre os enxadristas, mas de certo ponto de vista, muito polêmico também: é referente aos vícios de cigarro e álcool entre os enxadristas. Sempre tive a impressão que o numero de pessoas que fumam e bebem excessivamente é maior entre os enxadristas que a média geral da população baiana. Tentei ver isso com uma perspectiva histórica do jogo de xadrez e com uma visão psicológica também. Histórica porque vemos que o jogo de xadrez praticado desde o século XVIII em salões e clubes sempre foi rodeado por pessoas de melhores condições sociais e que costumavam beber wisky e fumar charutos caros durantes as reuniões do clube e até mesmo durante os jogos. Talvez algumas pessoas mais velhas tenham passado esses hábitos para a geração contemporânea. Outro fator que deve ser levado em conta é que as partidas de xadrez durante os campeonatos podem levar, e geralmente levam, as pessoas a um nível alto de ansiedade e de estresse emocional, o acarretaria um desequilíbrio deixando a pessoa mais suscetível para os vícios que tendem a diminuir ou disfarçar temporariamente esses problemas.

A sociedade baiana de enxadristas vem passando por uma lenta, mas, crescente reformulação. Dentro desta existe uma velha guarda e uma nova geração que surgiu a partir dos anos 90 . Essa nova geração está ajudando a tornar o xadrez mais popular e menos elitizado, tentando torna-lo mais acessível às classes baixas, promovendo torneios em bairros de menor renda e tentando levar os benefícios que o xadrez oferece a cada vez uma porção maior da população.

Espero que a minha vivência e visão sobre o modo de se organizar socialmente e culturalmente das pessoas que formam o cenário do xadrez no estado da Bahia, entre eles e com o resto da sociedade, tenha esclarecido alguns aspectos obscuros e com isso que eu tenha desmitificados alguns preconceitos existentes no censo popular, e, até mesmo, aberto os olhos dos leitores para que fiquem atento às coisas que estão ao nosso redor, e, que, assim como o xadrez outras diversas formas de manifestações culturais existentes em nosso estado estão de braços abertos para a participação e integração de todos, pois a cultura do nosso estado não se resume apenas ao carnaval e ao axé music, visão que os mercenários da capitalismo baiano querem passar para o nosso povo e para o resto do país.

* Graduando em Educação Física pela Universidade Federal da Bahia - UFBA


REFERÊNCIA:
http://identidade.cultural.vilabol.uol.com.br/xadrez.htm

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

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