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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ARTIGO 39 - O INTELECTO DO XADREZ - POR BENEDITO VELLOSO JÚNIOR (ANO I, Nº 004. DE 21 À 31 DE JANEIRO DE 2010).


FOTO 106.

O intelecto do xadrez - por Benedito Velloso Júnior
Introdução

Xadrez?

Não é um jogo de velhos? Intelectuais? Gênios?

As partidas não perduram dias, às vezes meses? Um lance não demora horas?

Tudo isto é falso! Mitos como os acima causam um receio natural àqueles que se propõem a aprender xadrez. E muitos jogadores ajudam a manter o mito – quem não gosta de ser chamado de gênio?

Acima de tudo, xadrez pode ser, e é, divertido! Mais do que as conhecidas vantagens que vêm da sua prática, milhões de jogadores em todo o mundo divertem-se com este jogo milenar.


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Mas o que é o xadrez? E o que as pessoas vêem nele?

O xadrez tem muitas facetas. Pode ser definido como uma mistura de jogo, arte, esporte e ciência.

Jogo: porque confronta dois adversários em um tabuleiro, com forças iguais de cada lado com o objetivo de se destruírem. Não há o elemento sorte, mas sempre há a incerteza sobre o que o adversário irá fazer.

Arte: porque as posições e seqüências de lances em uma partida podem criar uma composição artística com belas conotações estéticas. Cada jogador imprime no seu estilo de jogo parte de seu Eu, expressando artisticamente sua criatividade. Uma partida de xadrez pode ser anotada e reproduzida, eternizando-se sua apreciação como obra de arte através dos tempos.

Esporte: porque nas competições os jogadores medem suas forças, e na partida vence quem jogou melhor. Existe sim uma limitação no tempo das partidas, e os jogadores são pressionados a acharem a melhor solução para seus lances constantemente. Uma partida decisiva acarreta até perda de peso dos jogadores, pela tensão e esforço requeridos!

Ciência: porque em competições é necessário estudar e preparar-se antes das partidas, e aprender com a análise após jogá-las. É impossível esgotar-se as permutações possíveis no xadrez. Os lances possíveis no xadrez são estimados por matemáticos na ordem de 10 elevado a 120! O número de átomos estimados no universo é de “somente” 10 elevado a 80. Assim, a incerteza faz parte do xadrez, e não há partidas iguais. A teoria auxilia os jogadores a encontrar os melhores planos, no entanto não há, nem nunca haverá uma “receita de bolo” para a vitória.

No prefácio de sua obra prima, A Aventura do Xadrez, o grande mestre americano Edward Lasker conta que certa vez perguntou a diversas pessoas por que eram apaixonadas pelo jogo.

Dois líderes comerciais disseram que era porque o xadrez limita o elemento sorte e acentua a importância do planejamento.

Um músico respondeu que para ele o xadrez era como a própria vida: ensinava-o a coordenar a razão com o instinto.

Um matemático apreciava o elemento estético do jogo; encontrava numa série de movimentos sutis a mesma emoção que lhe proporcionava um belo teorema.

Um famoso filósofo admitiu que seu gosto pelo jogo envolvia um paradoxo. Teoricamente um filósofo podia admirar o xadrez porque nele nada é deixado à sorte, e nele a razão e a lógica triunfam. No entanto repetidas vezes, depois de ter feito o máximo para encontrar o lance mais vigoroso, seu próprio raciocínio demonstrava-se indigno de confiança. Sua conclusão era a de que gostava do xadrez por suas incertezas. Para ele o jogo tinha o encanto do imprevisto.


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Muita gente joga? Onde e como começou o xadrez?


A FIDE, entidade internacional que congrega as Federações de xadrez de cada país, só perde para a FIFA em número de países filiados. Milhões jogam xadrez, e sua prática ocorre em todo o mundo. Há constante disputa de torneios e campeonatos. No Brasil, o xadrez é regido pela CBX – Confederação Brasileira de Xadrez.

Ninguém sabe ao certo onde e como começou o xadrez. Há um consenso no sentido de que tem origem provavelmente na Pérsia (atual Irã), há milhares de anos. Suas regras foram mudadas no decorrer dos séculos, e foram uniformizadas nos últimos três séculos.

Há uma lenda sobre a origem do xadrez, recontada por Malba Tahan em seu excelente livro “O Homem que Calculava”. Um rei perdeu seu filho, e com isso ficou inconsolável. Descuidou-se da administração do reino, e os ministros ficaram preocupados. O problema foi resolvido quando um súdito criou o xadrez e ofereceu-o ao rei. O xadrez fez tanto sucesso, que o rei propôs ao súdito recompensá-lo com até metade do reino. Inicialmente o súdito recusou, mas ante a insistência do soberano pediu-lhe que o recompensasse com arroz. Um grão pela primeira casa do tabuleiro, dois, pela segunda, quatro pela terceira, e assim em diante até a 64ª casa. O rei riu-se da proposta, mas aceitou-a. Porém, ao pedir aos seus matemáticos que determinasse qual a quantidade que devia ao súdito, ficou perplexo ao saber que todos os campos da Índia, semeados durante séculos, não seriam capazes de produzir a montanha de arroz prometida, que seria muito maior que o Everest!


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Tudo isto é interessante. Porém o que diferencia o xadrez de outros jogos?


Há fascinantes semelhanças entre o xadrez, a música e a matemática. Somente nestes três ramos do conhecimento humano são conhecidas crianças prodígio. Mozart compôs um minueto aos quatro anos. Gauss, antes de saber ler e escrever corrigiu uma soma comprida que viu o pai fazer. Capablanca era criança quando foi campeão nacional de xadrez em Cuba. O fato de crianças jamais terem produzido uma obra-prima na pintura, na escultura, ou na literatura parece muito natural, quando consideramos sua limitada experiência de vida. Na música, xadrez e na matemática, aquela experiência não é necessária. Ali as crianças podem brilhar, porque os dotes nativos e a criatividade são os fatores dominantes. As permutações de posições e as combinações possíveis do xadrez são virtualmente infinitas.

Ainda, o xadrez não discrimina idade, raça, nem educação. Planinc era um mecânico iugoslavo, que aprendeu xadrez já homem feito. A seguir entrou em um torneio aberto em seu país, e foi vencendo sucessivamente todas as partidas! Neste torneio fez as normas de mestre e grande mestre internacional, que lhe foram posteriormente concedidos. As três jovens irmãs húngaras Zsuzsa, Sofia e Judit são grandes mestras internacionais de destaque. Judit foi a mais jovem grande mestra absoluta, demolindo façanhas anteriores de Fischer e Kasparov. Vassily Smyslov foi campeão mundial nos anos 50. Aos 63 anos de idade chegou à semifinal classificatória para o Campeonato Mundial de 1984; em 1994 venceu importante torneio em Mônaco. Viktor Kortchnoi, vice-campeão mundial de 1978 a 1981, com 64 anos venceu fortíssimo torneio em Madri.


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Quais são as vantagens da prática do xadrez?

O xadrez é altamente recomendável na formação educacional da criança. Diversos países o incluem como disciplina nas séries elementares. Segundo vários estudos, estimula nas crianças o desenvolvimento do raciocínio abstrato, da concentração e disciplina intelectual. Ajuda na maturação emocional da criança e no fortalecimento da capacidade decisória.

Quais são as qualidades essenciais para se tornar um jogador de xadrez de alta categoria?

Edward Lasker publicou um estudo organizado de doze grandes mestres do xadrez, feito por psicólogos. Verificou-se que ao contrário de que pensam os leigos, a memória do mestre de xadrez só se sobressai no referente a posições sobre o tabuleiro. Os mestres de xadrez não parecem também ser capazes de pensar mais depressa do que outros tipos de pessoas, escolhidas ao acaso pelos psicólogos e submetidas aos mesmos testes. Demonstram, porém, uma faculdade de raciocínio bem desenvolvida, do tipo semelhante a dos matemáticos.

Ao final, os psicólogos elaboraram uma lista de faculdades que consideraram essenciais a qualquer pessoa para tornar-se um enxadrista de categoria:

- Alto grau de inteligência, embora não necessariamente de cultura. Um forte jogador de xadrez pode ter pouca cultura. Pode mesmo não saber ler nem escrever. Mas nunca será estúpido.

- Capacidade de pensar objetivamente. A presença de um adversário que compreenda a lógica rigorosa de todas as relações no tabuleiro de xadrez deixa pouco lugar para a interpretação subjetiva arbitrária.

- Capacidade de pensamento abstrato. As generalizações corretas, baseadas em experiências adquiridas em anos de prática, produzem o chamado “instinto posicional” do mestre de xadrez que lhe permite deduzir o melhor lance em situações nas quais é impossível o cálculo exato.

- Capacidade de distribuir a atenção por diversos fatores diferentes, como os que estão sempre envolvidos numa “combinação”. Isto evita que o jogador deixe de perceber certos lances, fraqueza que prejudica o jogo da maioria dos amadores.

- Vontade disciplinada, capaz de forçar a rapidez e a concentração do processo de pensamento, sempre que necessário, até muito além da capacidade normal do jogador. Em contraste com o pensamento filosófico ou matemático, o pensamento do mestre de xadrez precisa às vezes de terrível intensificação momentânea, porque a partida é uma luta e o jogador tem de chegar a uma decisão dentro de certos limites de tempo. A consideração vagarosa de relações puramente lógicas, que pode resolver os problemas de um filósofo ou de um matemático, não levará à vitória o mestre de xadrez.

- Bons nervos e autocontrole. O jogador que não seja capaz de disciplinar suas emoções está sujeito a desmoralizar-se e jogar muito abaixo de sua força real. Precisa resistir a tensão da pressão do tempo, que abala muito os nervos, e quando o resultado é um erro que o leva à derrota numa partida quase ganha, deve aceitar calmamente a situação.

- Autoconfiança. O mestre de xadrez deve ter confiança implícita em seu julgamento de posições, pois raramente é possível a análise pormenorizada de todas as variações pertinentes.

Mas será necessário ser um “gênio” para brilhar no xadrez? A resposta é: não necessariamente! O soviético Mikhail Botvinnik foi campeão mundial praticamente de 1948 a 1963 (perdeu matches contra Smyslov em 57 e Tahl em 60, mas recuperou o título a seguir). Um excelente jogador, mas ele próprio não se considerava um prodígio. Porém foi um estudante aplicado e inovador da teoria do xadrez. Simplificadamente, sua força vinha do conhecimento minucioso e científico da teoria enxadrística aliada às suas inegáveis qualidades. Seu rival Mikhail Tahl era considerado por todos um gênio. Quando criança assistiu a uma palestra de seu pai, um médico, e ao chegar em casa foi capaz de repeti-la palavra por palavra. Entretanto, apesar de seu enorme talento nato, não foi capaz de recuperar o título mundial após perdê-lo para Botvinnik.

É fato que praticamente qualquer pessoa normal pode aprender a jogar xadrez. Para divertir-se e para apreciar a beleza de muitas partidas não é necessário nenhum dote específico. Ao final triunfa aquele que foi melhor (ou talvez aquele que cometeu o penúltimo erro), nem sempre o favorito. Por exemplo, segundo o Readers Digest, na década de 40 a prestigiosa Universidade de Cambridge, na Inglaterra, foi desafiada para um match contra um asilo de loucos. O asilo ganhou...


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Como é jogado o xadrez nas competições? Como se avalia a força do jogador?


Em competições, os jogadores são agrupados (emparceirados) para jogar conforme a sua força enxadrística. Esta força é medida objetivamente pelo “rating”, que é uma pontuação. Similar a pontuação do tênis, ela avalia a força do jogador pelos seus resultados contra outros jogadores. Se o jogador vence mais do que perde a jogadores com pontuação semelhante, ele ganha pontos, e vice-versa. Os ratings variam desde cerca de 1800 pontos (principiante) até cerca de 2800 (campeão mundial e outros poucos da elite). Não há limite mínimo ou máximo de ratings, porém há um tratamento estatístico no cálculo que evita flutuações excessivas . De acordo com a pontuação, podem-se obter títulos da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), que são: Mestre da FIDE – MF (rating acima de 2300); Mestre Internacional – MI (rating acima de 2400); Grande Mestre Internacional – GM (acima de 2500).

Os jogadores se enfrentam em partidas que têm tempos definidos em relógios de xadrez. Este é um relógio duplo, onde cada relógio marca o tempo de cada jogador. Ao fazer o lance, o jogador aperta o seu relógio; o seu tempo pára de rodar e o relógio do seu adversário passa a andar. A partida pode terminar com a vitória de um dos jogadores, o empate, ou ainda se o tempo de um dos jogadores terminar, vencendo então o outro jogador. Os tempos variam; há torneios de xadrez relâmpago, ou blitz, de 5 minutos para cada jogador, ou ainda menos. Para torneios que valem o rating oficial, os tempos são maiores; no entanto a média é de cerca de 3 minutos de reflexão para cada lance jogado. Não é muito tempo! É comum ver-se partidas em que um dos jogadores fracassa por ter ocorrido problemas com falta de tempo para sua análise e decisão.


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Onde encontrar material sobre o assunto?

Filmes (relacionados diretamente ao tema xadrez ou ao intelecto):

- “Mentes que brilham”, que tem direção e interpretação de Jodie Foster.

- “Lances inocentes” (The search of Bobby Fischer), com um excelente elenco que incluem Max Pomeranc, Joe Mantegna, Ben Kingsley, Laurence Fishburne, entre outros.

- “Face a face com o inimigo” - com Christopher Lambert. - “O sétimo selo” - do premiado diretor Ingmar Bergman.

Na internet


Links interessantes :

www.clubedexadrez.com.br Site sobre o xadrez mineiro, notícias e artigos. Muito bom.
www.cbx.org.br Site oficial da Confederação Brasileira de Xadrez, com notícias, programação de torneios, lista de ratings, links, etc.
www.hipernet.com.br/HiperChess Site do Mestre Internacional Herman Claudius, com suas colunas publicadas no Estadão, notícias, artigos e links. Recomendo
www.caissa.com Site em inglês para partidas on-line. Não necessita de plug-in. Interface amigável. 30 dias de experiência gratuitos.


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Bibliografia

- “Uma ameaça aos mestres do xadrez”. Artigo do mestre internacional Herman Claudius publicado na revista Super Interessante: Jogos, 1987 - Ed. ABRIL.

- “Xadrez Básico”, de autoria do Dr. Orfeu D’Agostini: Ed. EDIOURO.

- “História do Xadrez”, Edward Lasker: Ed. IBRASA.

- “Revista Jaque”, número 424.


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Sobre o autor

Benedito Velloso Júnior sagrou-se vice-campeão estadual do Espírito Santo em 2000, possui rating FIDE (pontuação no ranking internacional) de 2103 pontos. Foi campeão mineiro universitário em 1985, vencedor do Circuito Mineiro de Xadrez em 1988 e obteve medalha de prata na equipe que representou o Brasil nos XVIII International Students Sports Games, Israel, 1986.


Fonte: texto adaptado do site Portal Centroeste
Clique e conheça o(a) autor(a) deste artigo:
Gérson Peres Batista



PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:
http://www.clubedexadrez.com.br/menu_artigos.asp?s=cmdview593

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